Processo de Criação do Universo Visão do Shivaismo da Caxemira
pela Consciência Suprema auto-independente." |
Como vimos na edição
passada, o Shivaismo da Caxemira ensina que a origem de todo o Universo
é Shiva, a Consciência Suprema, que é onipresente,
perfeita e ilimitada, e que cria através de seu Poder conhecido
como Shakti.
[1]
Para o Shivaismo da Caxemira o processo
no qual a Consciência infinita se condensa em tudo aquilo que chamamos
de Universo ou Criação[3]
é conhecido como parinama, ou "alteração". Esse processo
é realizado em "etapas" conhecidas como tattvas, ou "níveis
de realidade", nos quais o Um aos poucos vai se quebrando em "muitos",
porém sem perder a sua identidade original.
Os conceitos de tattvas e parinama
já existiam antes do advento do Shivaismo da Caxemira, tendo suas
raízes nos Vedas. Contudo, foi o sistema Samkhya quem mais se dedicou
a este assunto, se tornando o ponto de origem para outras especulações
e debates por parte de outras escolas filosóficas posteriores, como
o Advaita-vedanta[4].
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Os mestres do Shivaismo da Caxemira
apenas fizeram algumas alterações e correções
quanto ao modelo apresentado pelo Samkhya, adaptando-o à suas próprias
experiências e realizações espirituais.
Antes de avançarmos na apresentação
destes níveis, o primeiro termo a ser explorado é Spanda,
"vibração" ou "pulso", que é a forma na qual os mestres
desta escola identificam a origem e a manutenção de todo
o Universo.
Parama-shiva não é
akarta, "inativo", pois para o Shivaismo da Caxemira, o próprio
fato de Deus ser cônscio de si mesmo já é ação,
ao contrário de alguns filósofos que afirmam que o Absoluto
é apenas uma massa de Consciência Infinita que é completamente
a parte de qualquer atividade. E é justamente a vibração
ou Spanda produzida por esta autopercepção é que dá
início ao processo de "evolução" do Universo. Essa
Vibração é também conhecida como o Verbo na
tradição Cristã.
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O Processo de Evolução
Esse processo de "evolução"
dos 36 tattvas a partir do Todo insondável e informe que é
Parama-shiva é descrito como parinama, que é literalmente
a capacidade do Absoluto de se "transformar" em qualquer coisa que desejar.
Isso é simploriamente exemplificado na alegoria do leite que se
transforma em coalhada para depois se transformar em queijo. Ou seja, algo
sutil que aparentemente se transforma em algo cada vez mais denso, embora
no interior seja o mesmo produto.
É importante lembrar que
Parama-shiva é simultaneamente transcendente quanto imanente, ou
seja, mesmo no processo de contração e limitação,
Ele mantém-se simultaneamente perfeito e completo em si mesmo, além
de qualquer tipo de dualidade.
Para o Shivaismo da Caxemira há
ao todo 36 tattvas, que estão didaticamente separados em três
grupos distintos:
2 – shuddha-ashuuddha ou "puros e impuros";
e 3 – ashuddha ou "impuros".
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Shuddha Tattvas
Este primeiro grupo é formado
pelos tattvas considerados shuddhas ou "puros" pois neles ainda não
há a ilusão de separação entre "sujeito" e
"objeto" – que ocorrerá nos tattvas posteriores.
1. Shiva (Auspicioso) e 2. Shakti
(Poder): são os dois princípios inerentes de Parama-shiva,
respectivamente o aspecto masculino e feminino do Absoluto. Shiva, ou prakaça,
é o aspecto da luminosidade e da passividade, no qual predomina
Cit-shakti, o Poder da Consciência do Eu. Shakti, ou vimarça,
é o aspecto do poder e da atividade, na qual predomina Ananda-shakti,
o Poder da felicidade.
Não se deve encarar estes
dois princípios cósmicos como duas entidades separadas ou
princípios separados. Um é parte do outro e está no
outro, tal como o calor está no fogo. Essa aparente dualidade serve
apenas para fins didáticos facilitando a compreensão de todo
o processo que irá se desenrolar no surgimento dos tattvas restantes.
3. Sada-shiva (Eternamente auspicioso):
neste nível surge iccha-shakti, que é Poder da vontade, ou
a intenção de originar uma Criação;
4. Ishvara (Senhor): neste nível
surge jïana-shakti, ou o Poder do conhecimento, o nível das
idéias divinas no qual estabelece-se o plano da Criação;
5. Sad-vidya(Conhecimento do Ser):
surge kriya-shakti, o Poder da ação, pois existindo a intenção
e a inteligência basta apenas a execução do plano.
A Primeira Impureza
Um segredo: antes de Parama-shiva
"continuar" nos tattvas seguintes, algo muito estranho surge: acontece
a primeira contração de consciência do Absoluto. Essa
contração é conhecida como mala, "impureza". Esse
primeiro mala (são três ao todo), que é o responsável
por iniciar o processo que fará o Absoluto sem forma tomar uma forma
limitada, recebe o nome técnico de anava, "pertencente a anu – o
ser limitado". Esse é o primeiro passo do esquecimento e do "sono
da alma" do Criador.
Shuddha-ashuddha Tattvas
Os cinco primeiros "níveis"
ou aspectos primários do Absoluto representam sinteticamente os
primeiros passos para a Criação, demonstrando Seus cinco
principais podereis, isto é, Cit, Ananda, Iccha, Jïana e Kriya,
ou Onipresença, Beatitude, Vontade, Onisciência e Onipotência.
Veremos agora nos próximos
tattvas o processo pelo qual esses "super-poderes" do Absoluto serão
reduzidos a meras frações.
Deve-se saber que no Tantra, ao
qual o Shivaismo da Caxemira está inserido, não tem-se a
mesma atitude verticalista que alguns grupos espiritualistas têm
ao dizer que o mundo é miséria e sofrimento. Para um adepto
do Shivaismo da Caxemira, não há problema algum em dizer
que Deus é o mundo e o mundo é Deus, pois o efeito (o mundo)
não pode ser diferente de sua causa (o Absoluto)[5].
Comenta-se isso pois nesta tradição é o próprio
Senhor Absoluto que aceita limitações em Si próprio.
A ilusão e a libertação são apenas dois aspectos
de uma mesma moeda que está completamente sob domínio do
Criador.
Esses princípios "puros e
impuros" nada mais são que Shakti agora numa forma contraída,
fazendo o trabalho de igualmente velar e contrair o seu bem-amado Shiva.
6. Maya (Mensuradora): favor não
confundir este termo com o comumente utilizado pelas outras escolas filosóficas
indianas, para os quais têm um valor completamente diferente do aqui
utilizado pelo Shivaismo da Caxemira, pois nesta tradição,
Maya não é simplesmente um poder ilusório ou mágico
destituído de origem. Maya vem da raiz verbal ma,
"mensurar", "comparar" e aqui é o princípio que limita e
estabelece condições dualistas sobre o Todo.
Neste ponto surge o segundo mala,
responsável pelo processo de "dualização" da consciência.
Seu nome é Mayiya e significa literalmente "que pertence a Maya".
Sob o domínio destes dois malas, Shiva e Shakti contraem-se e "dividem-se"
em dois. O resultado disso será visto logo em breve.
Maya em essência é
uma forma contraída de Shakti ou o Poder criativo de Deus. Já
sabemos que Shakti em seu aspecto puro é o poder que percebe e reflete
a luz de Shiva em toda a Criação. Mas agora neste nível,
essa percepção e reflexão se dá numa maneira
distorcida. Isso é feito pelos cinco kaïcukas, "camisas", que
servem apenas para esconder ou encobrir os cinco "super-poderes" do Absoluto.
Cada um desses kaïcukas é
considerado um tattva diferente.
7. Kala (Parte): essa "camisa" vela
a onipotência de Parama-shiva criando a falsa noção
de que há coisas que são possíveis de realizar e outras
que são impossíveis.
8. Vidya (Conhecimento): essa "camisa"
vela a onisciência de Parama-shiva criando a falsa noção
de que há coisas que são possíveis de conhecer e outras
que são impossíveis.
9. Raga (Apego): essa "camisa" vela
a vontade de Parama-shiva criando inclinações e desejos inferiores,
notadamente o apego e a aversão, isto é, deseja-se coisas
agradáveis e repele-se o que não é agradável.
10. Kala (Tempo): essa "camisa"
vela a Beatitude de Parama-shiva gerando o medo do tempo, da velhice e
da morte.
11. Niyati (Necessidade): essa "camisa"
vela a Onipresença de Parama-shiva gerando a noção
de limitação espacial e temporal.
Nesse ínterim, surge mais
uma impureza inevitável como resultado da soma de Anava-mala com
Kala-kaïcuka. Essa nova impureza chama-se Karma-mala, que simplificando,
é a noção errônea de que somos seres limitados
realizando ações igualmente limitadas – boas ou más
– e que nos farão entrar numa roda interminável de ação
e reação, o que em outras palavras é a famosa Lei
do Karma.
Assim, olhando a equação
abaixo:
Anava-mala + Kala-kaïcuka = Karma-mala
Anava-mala + Kala-kaïcuka = Karma-mala
E "traduzindo" para o Português
seria algo assim:
Sou imperfeito + Realizo ações limitadas = Eu realizo tanto boas quanto más ações
Sou imperfeito + Realizo ações limitadas = Eu realizo tanto boas quanto más ações
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Ashuddha Tattvas
O que acontece após Parama-shiva
passar por tantas contrações e limitações diferentes?
Obviamente acontece uma redução considerável de energia,
poder e consciência. O que era infinito agora fica reduzido a uma
mera fagulha que se esforça por se tornar mais uma vez uma grande
fornalha cósmica. Isso pode ser figurado na imagem do transformador
elétrico, que recebe energias muito altas e vai diminuindo-as até
chegar num ponto aceitável para serem utilizadas por nossos pequenos
aparelhos domésticos.
Bem, neste caso, qual a finalidade
de reduzir a Sua energia? Que tipo de "aparelho" será utilizado?
Os tattvas seguintes são
a resposta a estas perguntas. Nestes tattvas há o completo velamento
da luz e da verdade supremas, gerando a dualidade. Por isso os próximos
princípios são chamados de Açuddha, "impuros".
12. Purusha (Homem) ou Anu (Átomo):
finalmente a alma individual. O aspecto permanente de nossas vidas efêmeras.
Este é kshetrajïa, o "percebedor do campo" de que falam muitas
escrituras hindus. Contudo, não é o mesmo Purusha de que
falam o Samkhya e o Advaita-vedanta, para os quais este é o próprio
Absoluto manifesto. O Purusha do Shivaismo da Caxemira se assemelha ao
que no Ocidente é conhecido por alma, ou seja, é apenas um
princípio interior composto de alguns instrumentos sutis, como o
ego, a mente e o intelecto, mas que sempre enxerga um "outro", isto é,
vive na ilusão de dualidade e diferença.
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Conforme vimos anteriormente, há
uma grande diferença no ponto de vista entre essas escolas citadas
e o Shivaismo da Caxemira. O Samkhya é um sistema ateu que ensina
que o Universo inteiro nada mais é que a manifestação
de dois princípios conhecidos como Purusha e Prakriti, ou alma e
matéria. Ambos são completamente distintos e irreconciliáveis,
pois, nesta doutrina, Purusha anseia unicamente desvencilhar-se de Prakriti,
pois ela é apenas um campo de dor e sofrimento.
Já no Advaita-vedanta, o
Universo ou Prakriti é apenas um fantasma, uma ilusão super-imposta
provocada por Maya sobre Brahman. Não há ligação
entre Brahman e Prakriti, sendo que a criação é apenas
uma evolução aparente (vivarta) como uma névoa sobre
o mar.
Assim, para esses dois sistemas
o Ser interior é completamente à parte de todo o Universo,
sendo não-agente (akarta) e apenas testemunha (grahaka). Ao contrário,
o Shivaismo da Caxemira dá uma explicação mais racional
ao mostrar que essa dualidade espírito-matéria faria com
que a vida não fosse realmente possível, pois como podem
existir duas coisas distintas num mesmo lugar? Tanto aquilo que é
sutil, quanto aquilo que é denso difere apenas entre as suas taxas
vibratórias, tendo como origem o mesmo Deus Absoluto.
13. Prakriti (Matriz): eis aqui
o que nós conhecemos por Universo: o imenso conjunto de inúmeros
planos e sub-planos que vão desde o mais denso e temível
dos infernos até o mais elevado e belo mundo dos deuses. Prakriti
é o "campo de percepção", aquilo que é percebido
e sentido pela alma humana, o Purusha.
Embora o termo seja igual, Prakriti
é também diferente do que ensina o Samkhya e o Advaita-vedanta,
pois (além do que já discutimos anteriormente) nestes dois
sistemas há apenas uma Prakriti para toda a imensidão de
Purushas que a habitam, ou seja, um único "barco" pra todos os "marinheiros".
Por sua vez, o Shivaismo da Caxemira
aprofunda essa teoria ao afirmar que além de uma única Prakriti
para todo o conjunto de almas viventes, cada alma tem individualmente a
sua própria. Isto é óbvio pois o próprio conjunto
de mente, ego, intelecto e o próprio corpo físico que "pertence"
temporariamente a uma alma nada mais é que uma manifestação
de Prakriti.
Na realidade, quem são Purusha
e Prakriti?
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Nada mais são que Shiva e
Shakti em formas contraídas, resultado de Mayae suas "camisas".
A diferença é que Shiva não está mais com seus
poderes supremos e Shakti está incapaz de perceber a Luz divina
e refleti-la.
Do que é feita Prakriti?
Prakriti é constituída pelos três gunas conhecidos
como tamas (inércia), rajas (paixão) e sattva (equilíbrio),
sendo estes os princípios energéticos que darão forma
e existência a tudo o que preencherá o Universo.
Contudo, de onde vieram esses guëas?
Eles são o resultado das contrações provocas sobre
os poderes divinos nos tattvas 3, 4 e 5 através dos malas e kaïcukas
anteriormente citados. Veja a tabela abaixo:
3 - Sada-shéva Tattva: iccha-shakti
transforma-se em Rajas
4 - Ishvara Tattva: jïana-shakti transforma-se em Sattva
5 - Sad-vidya Tattva: kriya-shakti transforma-se em Tamas
4 - Ishvara Tattva: jïana-shakti transforma-se em Sattva
5 - Sad-vidya Tattva: kriya-shakti transforma-se em Tamas
Em sua forma original – anterior
a formalização da Criação que estará
ocorrendo a partir de agora – esses três guëas estão
em perfeito equilíbrio dentro de Prakriti. No momento em que esses
três guëas saem desse equilíbrio original fazendo com
que haja maior predominância de um sobre os outros: tchbumm – a Natureza
em suas mais variadas formas surge.
As três primeiras manifestações
do desequilíbrio dos guëas em Prakriti formam um conjunto chamado
antaùkarana ou "órgão interno sutil", que é
composto pelos tattvas 14 a 16.
14. Buddhi (Intelecto): tem a predominância
de sattva (contração de jïana-shakti – o poder do conhecimento).
É o aspecto da inteligência do antaùkarana pois funciona
como um espelho que reflete o Ser interior. Também funciona como
uma biblioteca que armazena todas as informações colhidas
durante as existências de uma alma e assim é capaz de fazer
distinções como: "isto é uma caneta" ou "isto é
um lápis". De Buddhi surge o próximo tattva.
15. Ahamkara (Ego): tem a predominância
de rajas (contração de iccha-shakti – o poder da vontade).
É o aspecto criador do antaùkarana pois é uma massa
de impressões recebidas em todas as existências de uma alma,
funcionando como as sementes da grande maioria de nossos pensamentos, formando
assim nosso caráter e nosso destino.
16. Manas (Mente): é manifestação
de Ahamkara, pois este precisa de uma mente para controlar os jïanendriyas
(poderes de percepção) e os karmendriyas (poderes de ação)
que ainda não se manifestaram. Tem a predominância de tamas
(contração de kriya-shakti – o poder da ação).
É o aspecto ativo porém cego do antaùkarana por ser
composto de uma turbulência de pensamentos oriundos das atividades
sensoriais.
Os próximos cinco tattvas
recebem a predominância sattva de Ahamkara e recebem o nome de jïanendriyas,
"poderes de percepção", pois são os cinco poderes
(indriyas) de percepção ou conhecimento (jïana) que
a mente utiliza para reconhecer o Universo à sua volta – bem como
o seu interior também. Esses poderes não são os órgãos
físicos, mas as suas matrizes em forma sutil.
17. Çrotra: o poder da "audição".
18. Tvak: o poder do "tato".
19. Cakñus: o poder da "visão".
20. Jihva: o poder do "paladar".
21. Ghraëa: o poder da "olfação".
Os próximos cinco tattvas
recebem a predominância rajas de Ahaàkara e recebem o nome
de karmendriyas, "poderes de ação", pois são os cinco
poderes (indriyas) de ação (Karma) que a mente utiliza para
agir no Universo à sua volta – bem como no seu interior também.
Esses poderes não são os órgãos físicos,
mas as suas matrizes em forma sutil.
22. Vak (Fala): o poder da "comunicação".
23. Paëi (Mão): o poder
da "manipulação".
24. Pada (Pé): o poder da
"locomoção".
25. Payu (Ânus): o poder da
"excreção".
26. Upastha (Genital): o poder da
"procriação".
Como os jïanendriyas e karmendriyas,
os tanmatras, "elementos sutis", surgiram do aspecto tamas de Ahamkara
e servem como moldes para a percepção da mente no Universo
de múltiplas formas, nomes e cores. O nome tanmatra literalmente
significa "simplesmente (matra) aquilo (tat)" e refere-se ao fato de que
um tanmatra é apenas algo sem nenhuma diferenciação
em particular, sendo apenas uma forma de medida comparativa que estabelece
padrões separados. Por exemplo, uüpa-tanmatra é apenas
uma "cor paterna", e não uma cor em particular como o preto, branco,
azul, etc.
27. Shabda (Som): o potencial para
a percepção auditiva.
28. Sparsha (Toque): o potencial
para a percepção táctil.
29. Rupa (Cor): o potencial para
a percepção visual.
30. Rasa (Gosto): o potencial para
a percepção gustativa.
31. Gandha (Aroma): o potencial
para a percepção olfativa.
Finalmente surgem as partículas
sutis que formarão todas as coisas perceptíveis aos órgãos
dos sentidos em nossa existência em um dos diversos planos do Universo.
Essas partículas sutis recebem o nome de mahabhutas, "grandes (maha)
elementos (bhuta)" e são formados pelos cinco tanmatras explicados
acima. Note que eles são apenas "elementos", ou seja, não
são o objeto em si.
32. Akasha (Éter): o espaço sutil que preenche todo o Universo manifesto.
32. Akasha (Éter): o espaço sutil que preenche todo o Universo manifesto.
33. Vayu (Ar): o princípio
gasoso.
34. Agni (Fogo): o princípio
do calor e brilho.
35. Apas (Água): o princípio
da liquidez.
36. Prithivi (Terra): o princípio
da solidez.
Abaixo há uma tabela que
explica detalhadamente a composição de cada um desses mahabhütas
dentro do ponto de vista do Shivaismo da Caxemira.
A soma das porcentagens de cada
um desses tanmatras originará um mahabhuta diferente
Shabda Sparsha Rupa
Rasa Gandha
50,0 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % forma Akasha
12,5 % 50,0 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % forma Vayu
12,5 % 12,5 % 50,0 % 12,5 % 12,5 % forma Agni
12,5 % 12,5 % 12,5 % 50,0 % 12,5 % forma Apas
12,5 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % 50,0 % forma Prithivi
50,0 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % forma Akasha
12,5 % 50,0 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % forma Vayu
12,5 % 12,5 % 50,0 % 12,5 % 12,5 % forma Agni
12,5 % 12,5 % 12,5 % 50,0 % 12,5 % forma Apas
12,5 % 12,5 % 12,5 % 12,5 % 50,0 % forma Prithivi
CONCLUSÃO: E AGORA, O
QUE FAZER?
Após ter feito toda essa
"viagem cósmica" você pode estar se perguntado: "qual a finalidade
de conhecer tudo isso?"
Essa é uma pergunta muito
interessante pois nos coloca na compreensão de que o conhecimento
teórico é inútil sem uma prática pessoal.
Toda essa "teoria" foi desenvolvida
após muitos séculos de intenso estudo das escrituras e principalmente
dedicação à meditação e aos seus mais
elevados estados de consciência espiritual. Assim, esses tattvas
funcionam como uma espécie de "mapa espiritual", cuja principal
finalidade é que seus praticantes possam:
1. compreender pelo menos a nível
intelectual que a Criação nada mais é que uma forma
condensada do Poder supremo, ou Shakti;
2. compreender que é Deus
quem assume em Si mesmo formas diferentes de contração;
3. compreender que há apenas
um único Poder no Universo, isto é, Deus;
4. compreender que a aparente dualidade
que nos separa uns dos outros e de Deus é apenas ilusória
e transitória;
5. compreender que a Criação
é um Jogo divino;
6. compreender que nos processos
mais sutis de meditação esses tattvas são experimentados
pelo praticante;
7. perceber em seu íntimo:
iti Shivam – tudo isto é da natureza de Deus.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Isto é realmente apenas um
fragmento do que essa poderosa filosofia tem a nos oferecer. Para se ter
uma idéia, os tattvas aqui apresentados (ainda que de maneira muito
resumida) são apenas um tópico do que é chamado de
Shaòadhva, ou os "seis (shad) cursos (adhva)". Esses "seis cursos"
formam um conjunto ainda mais avançado e superior de compreender
a "construção" do Universo, tanto em nível do que
chamamos de manifesto quando o do imanifesto. Neles há uma explicação
dos planos que formam cada tattva bem como os mundos que existem neles,
e há também uma descrição como cada um dos
tattvas têm correspondência com uma das letras do alfabeto
sânscrito.
Para finalizar, lembremo-nos do
ensinamento do grande siddha Vasuguptacarya:
sa pushyan satatam yukto jévanmukto na samshayaù
Aquele que continuamente percebe o universo inteiro
como um jogo da Consciência universal atingiu realmente
a realização do Ser; ele está liberado neste corpo.[6]
Rafael José Kraisch
é professor de yoga em Joinville.
www.yogabhumi.pro.br
é professor de yoga em Joinville.
www.yogabhumi.pro.br
Notas:
[1] Pratyabhijïähådayam 1.
[2] Cadernos de Yoga nº6: Introdução ao Shivaismo da Caxemira.
[3] Esses termos se referem a todo o conjunto de níveis que vão desde os demoníacos até os divinos.
[4] O Samkhya e o Advaita-vedanta floresceram respectivamente nos séculos 4 e 9 d.C., enquanto que a primeira manifestação do Shivaismo da Caxemira ocorreu no início do século 10 d.C.
[5] Essa teoria recebe o nome de sat-karya-vada, que denota que o efeito (karya) já está preexistente (sat) na causa, isto é, cada tattva já existe de forma potencial naquele que o precede (isto é melhor entendido no diagrama aqui apresentado) o que ao final mostra-se que o Universo não poderia vir à existência se ele já não estivesse de forma potencial em Parama-shiva.
[6] Spanda-Shastra.
[1] Pratyabhijïähådayam 1.
[2] Cadernos de Yoga nº6: Introdução ao Shivaismo da Caxemira.
[3] Esses termos se referem a todo o conjunto de níveis que vão desde os demoníacos até os divinos.
[4] O Samkhya e o Advaita-vedanta floresceram respectivamente nos séculos 4 e 9 d.C., enquanto que a primeira manifestação do Shivaismo da Caxemira ocorreu no início do século 10 d.C.
[5] Essa teoria recebe o nome de sat-karya-vada, que denota que o efeito (karya) já está preexistente (sat) na causa, isto é, cada tattva já existe de forma potencial naquele que o precede (isto é melhor entendido no diagrama aqui apresentado) o que ao final mostra-se que o Universo não poderia vir à existência se ele já não estivesse de forma potencial em Parama-shiva.
[6] Spanda-Shastra.
Adorei os esclarecimentos sobre Shiva!!! Om namah Shivaya...!!!
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